20 de jul. de 2013

Sobre ela

Faz tanto tempo que não escrevo e hoje quando vim procurar um texto, simplesmente descobri que nunca escrevi sobre você. Já escrevi sobre desconhecidos, cachorro, gato e papagaio, neuras e futilidades, coisas que nunca aconteceram e até mesmo para aqueles que se foram, sem nunca terem ao menos existido. São quase 10 anos de convivência, de altos e baixos, de risos, lágrimas, desabafos, superações, de conquistas e de muitas batalhas. Não lembro exatamente a primeira vez que a vi, mas me lembro que no começo jamais imaginei que chegaríamos até aqui. Loira, "patricinha" e mimada, posso dizer que a primeira impressão não indicava que  me aproximaria e me identificaria facilmente com ela. Não sei como aconteceu, mas ela se aproximou de mim e me mostrou que as aparências enganam. Generosa, divertida, simples e acessível, ela me permitiu fazer parte do seu mundo, que mesmo sendo tão diferente do meu, consegue ao mesmo tempo ser tão igual. Muitas pessoas apareceram no meu caminho ao longo desses anos e ela continua sendo uma das poucas com quem posso contar qualquer coisa sem medo de ser ridicularizada (mesmo porque nós sempre conseguimos rir juntas e nunca uma da outra). Em momento algum ela desistiu de mim, mesmo depois que a faculdade acabou e seguimos caminhos diferentes, mesmo com meu mau humor, meus casos que dariam péssimas novelas mexicanas e meu mundinho cheio de tédio, loucura e drama. Ela simplesmente me aceitou como sou e isso me tornou uma pessoa melhor. Hoje posso dizer que a amizade é um amor que nunca morre, porque ao lado dela eu me sinto inexplicavelmente em casa.
6 de fev. de 2012

Eu sei, mas não devia




Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.





[Sigo desembaralhando as palavras por aqui. Em breve, pensamento e palavras , num ritmo próprio e alheio a minha vontade, serão capazes de transformar meus rascunhos em textos.]
2 de fev. de 2012

O prazer de escrever

                
"Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..." Clarice Lispector


As palavras nunca me abandonaram. Elas continuam aqui, emaranhadas, amontoadas, emboloradas, embaralhadas, amarrotadas, tortas e confusas. Ainda assim, elas estão aqui, tentando achar alguma forma de escapulir e formar frases, parágrafos, textos, qualquer coisa que dê sentido a esse caminho meio errado, meio fora do prumo. Ah, as palavras! Nada mais que um amontoado de letras que vivem a bailar dentro dessa minha cachola, num eterno convite para viagens malucas a mundos distantes. Sim, elas continuam aqui e ficam horas a fio cochichando histórias absurdas em meus ouvidos, numa constante tentativa de prender a minha atenção. Então, encontro-me no mesmo em que já estive há alguns anos: preciso desembotar as palavras, deixar com que respirem fora de mim, que se agrupem, se reúnam, formem pares impensáveis e que contem a história que desejam. Assim como na primeira vez, não imagino o resultado de tal empreitada, quiçá posso entender se estamos caminhando para um novo lugar. Tudo o que sei é que recomeço essa caminhada e espero dias de sol e um pouco de leveza.
26 de set. de 2011

O amor acaba

Eu nunca imaginei que um dia fosse descobrir que o amor acaba. Sempre imaginei uma coisa meio "amor, eterno amor", mas agora vejo que está mais para "que seja eterno, enquanto dure". Foi eterno, foi intenso, foi para sempre, mas acabou e agora eu não sei como dizer que não te amo mais. 
 
;